O Observasinos – Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale dos Sinos é um projeto do Instituto Humanitas Unisinos – IHU e objetiva reunir, analisar, sistematizar e publicizar indicadores da realidade da região, em vista da contribuição na implementação, qualificação e controle social das políticas públicas afirmadoras de uma sociedade includente e sustentável As análises “De olho no Vale dos Sinos” constituem-se em uma das ações do Observasinos e são publicadas semanalmente nas noticias diárias do site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Estas análises são construídas a partir da aproximação com diferentes bases de dados, em vista de dar vistas à realidade de cada um dos 14 municípios da região, assim como da totalidade da região. Além da exposição dos dados, esta atividade propõe o debate com os agentes implicados à realidade. Assim, dinamicamente vão sendo sistematizadas e publicizadas as análises, que já totalizam 20 desde a sua inicialização neste ano de 2010.
Nesta semana a equipe do Observasinos promoveu o debate com alguns gestores governamentais sobre os indicadores da realidade publicados na análise do dia 21 de agosto, intitulada Os trabalhadores e a violência no Vale dos Sinos. Os indicadores desvelados sobre o Vale tematizaram a violência na região a partir de quatro variáveis: furto, homicídio, estelionato, roubo e tráfico de entorpecentes. Os três municípios que revelaram os maiores indicadores de violência, levando-se em conta a proporcionalidade com os indicadores populacionais, foram Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
Esta constatação remeteu à busca de outros indicadores em vista de alargar e aprofundar a compreensão desta realidade. A primeira aproximação para este adensamento deu-se em relação aos indicadores do trabalho. Foi lembrada a recorrente afirmação que o trabalho é a possível solução para todos os “males”, ou seja, nos lugares onde há trabalho há vida melhor. Foi então verificado que os municípios que tiveram destaque nos dados sobre a violência são os mesmos que tiveram maior oferta de trabalho no primeiro semestre de 2010, segundo análise publicada no dia 31 de julho, intitulada “Emprego e Desemprego no Vale dos Sinos no primeiro semestre deste ano”.
Tal realidade apontou o desafio de novos questionamentos e apontamentos para uma nova pauta de discussão, que foi ampliada com a participação dos gestores municipais.
A relação entre oferta de empregos e violência é um tema que merece aprofundamento e reflexão, neste sentido Paulo Haubert – Diretor do Trabalho da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo em entrevista realizada por telefone, comentou que: “O tema da violência é muito complexo e exige importante aprofundamento. A Prefeitura de Novo Hamburgo, através da ação de diferentes políticas, atua no enfrentamento das diversas formas de violência vividas pelas mulheres, jovens, crianças, adolescentes, idosos.”.
Os altos índices de violência podem ser justificados por inúmeros fatores, implicados às relações sociais, econômicas, políticas e culturais, assumidas ou não distintamente pelo Estado e pela Sociedade. Na perspectiva do enfrentamento da violência a partir do trabalho, Haubert refere que “trata-se de uma política que aponta possibilidades de impacto a médio e longo prazo. De imediato é necessário perceber que não há mágica que mude a realidade da violência”. O aumento de vagas no mercado de trabalho não atende muitas vezes a realidade da população. Uma das necessidades que Paulo Haubert aponta como desafio é “o da qualificação profissional, que possibilita formação para o trabalho e para a vida, apontando o crescimento pessoal e a auto-estima, que tem possibilidades de interferir na conduta e relações das pessoas e da sociedade”
Na região do Vale dos Sinos, os maiores índices de violência se apresentam nas cidades onde têm o maior contingente populacional, que consequentemente promovem o aumento da demanda dos municípios em diversas outras necessidades, tais como afirma Paulo “os municípios que apresentam os maiores índices de violência […] são as mesmas cidades que têm o maior índice populacional, de demandas por trabalho, moradia, saúde, etc. Esta consideração é confirmada através dos dados disponibilizados pela Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul – FEE/RS. Em 2008 a população na faixa etária de 15 a 70 anos ou mais, ou seja, a população em idade ativa, somava 882.856 pessoas na região. Deste total, os municípios referidos especialmente nesta análise somam 68% da população, dos quais Canoas conta com 28,2%, Novo Hamburgo com 21,9% e São Leopoldo com 17,9%.
O Diretor do Trabalho de Novo Hamburgo observou também que houve a elevação de postos de trabalho no último período, mas, ao mesmo tempo, uma elevação da população economicamente ativa e que continua havendo um número excedente de pessoas, que vive em situação de desemprego. E a realidade de desemprego pode promover atos de violência em vista da sobrevivência.”
Neste sentido, pode-se lembrar de outro indicador revelado na 17ª análise publicada pelo Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale dos Sinos intitulada “O perfil dos trabalhadores admitidos e desligados no Vale dos Sinos em 2010”, que a faixa salarial de 72,4% dos trabalhadores da região segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, fica entre 1 salário mínimo e 1 salário mínimo e meio. Entende-se que este valor muitas vezes é insuficiente para cobrir as demandas e necessidades familiares. Este quadro também proporciona às pessoas e famílias condições de vulnerabilidade e risco social.
A partir destes elementos fica confirmado que não há um fator único que explique por que algumas pessoas, comunidades, cidades se comportam mais violentamente que outras. A violência tem sido reconhecida como resultado da complexa interação dos fatores individuais, relacionais, sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais. Compreender como esses fatores estão relacionados com a violência é um dos passos importantes para o seu enfrentamento e prevenção. Percebe-se que o conjunto das políticas públicas, sociedade e Estado, estão desafiados para isso, a partir de análises e intervenções intersetoriais.
Seguir esta análise, debate, sistematização desta realidade constitui-se em compromisso do Observasinos.
Participe desta construção!
Fonte: IHU Online