Apresentação

No ano 2009 emerge a Rede AMLAT como resultado do trabalho colaborativo entre grupos de investigação, núcleos de trabalho, equipes de estudo, coletivos universitários e centros de formação crítica em universidades da Argentina, do Brasil, do Equador e da Venezuela. Essa articulação, apoiada pelo CNPq no formato PROSUL, gerou uma atividade fecunda de intercâmbio, cooperação, troca e compartilhamento de investigações, estágios de investigação, e de produção editorial; essas atividades geraram livros, que articularam e socializaram o pensamento, as experiências, os projetos e os saberes dos grupos de investigação participantes.

O objetivo estratégico desses afazeres foi, e é, constituir fortalezas de conhecimento científico em ciências da comunicação na América Latina. A diferença dos projetos associativos macroestruturais, das institucionalidades oficiais, a Rede AMLAT trabalha pela constituição de uma cultura investigativa e educativa transformadora e solidária, que mediante o compartilhamento dessa orientação entre seus coletivos aprofunde, amplie e gere modos de vida alternativos na produção de conhecimento.

Na dimensão teórica, a Rede AMLAT propõe a práxis teórica transdisciplinar, que se nutre dos saberes fecundados pela humanidade durante os últimos milênios. Ao mesmo tempo, estabelece um diálogo inventivo com a diversidade de campos científicos existentes; para isso, configura um agir epistemológico múltiplo, que reconhece o valor dos conhecimentos de cada área, e, simultaneamente, realiza combinações, reformulações, reconstruções argumentativas e produções teóricas renovadoras, em cada projeto de investigação. Nutre-se das epistemologias autóctones, regionais, ancestrais, renovadoras, para que a produção teórica não seja deixada aos especuladores, fanfarrões, imitadores, e à burocracia especializada em castrar os talentos e o pensamento crítico.

Na dimensão metodológica a Rede AMLAT tem um espaço/tempo de trabalho intensivo; dado que, no seu seio a vertente transmetodológica tem prosperado como uma alternativa crítica, epistemológica, para a problemática dos métodos. Nessa perspectiva, a Rede AMLAT aperfeiçoa as perspectivas multimetodológicas em ciências da comunicação; tem aprendido através da desconstrução e reconstrução metodológica das experiências, das propostas estratégicas, dos ensaios, das argumentações metodológicas no Brasil, na América Latina e no mundo.

Nesta primeira década de existência (2009-2019), a Rede AMLAT tem acolhido, trabalhado e realizado projetos orientados na perspectiva transmetodológica, nos níveis de pós-doutorado, doutorado mestrado e iniciação científica. Os resultados têm sido gratificantes e revigorantes; a opção por metodologias transformadoras/críticas, que dialogam em colaboração construtiva, tem-se demonstrado potente e fecunda. O compromisso com a vida (espécies, biosfera, humanidade), tem distinguido a um conjunto expressivo de investigações realizadas na Rede, e tem aberto uma frente crítica relevante na vida acadêmica regional.

Os argumentos constitutivos do conceito de sujeitos e sujeitas comunicantes −formulados na Rede AMLAT−, têm brindado um conjunto de arranjos e problematizações potentes para compreender o papel, o sentido, a conformação, as distinções, as características e os devires dos sujeitos (as) históricos (as) engendradores (as) de comunicação. A crítica à noção funcionalistas, positivista, empirista do receptor tem sido consistente, vigorosa e penetrante. Nessa mesma dimensão, a problemática do (da) sujeito (a) tem sido articulada à realidade educomunicativa da formação de investigadoras (es), pensadoras (es), profissionais, tecnólogas (os), que na perspectiva da Rede AMLAT precisam exercer uma cidadania científica de transformação revolucionária das suas subjetividades, para reconfigurar-se em perspectiva inventiva, comprometida, solidária e fecunda.

Na Rede AMLAT essa orientação tem fortalecido sua perspectiva crítica para a formação de investigadoras (es). Nem sempre, nem todas (os) conseguem fruir, desconstruir-se, reconstituir-se na complexidade transmetodológica; ainda assim, quase todas e todos aprendem a pensar e a pesquisar de maneira comprometida com o conhecimento, com a cidadania, com a vida, com as culturas, com a necessária organização produtiva que os trabalhos exigentes demandam. Quase todas (os) têm incorporado o modo de problematizar crítico e complexo, para trabalhar em comunicação, em educação e nos seus afazeres profissionais. A maioria aprende a amar a produção de conhecimento consistente, ao serviço do bem-viver. A Rede AMLAT é assim um tecido de afetos estratégicos e intensos que articulam o conhecimento e as transformações.